helvetica (2007)
Quando se pensa em escrever, muitas vezes o conteúdo do texto surge como eixo principal, sendo as palavras os pilares primordiais daquilo que se deseja transmitir. Acontece que, quando se analisa com cautela aquilo que é escrito, percebe-se que a escolha dos “tipos de letras”, ou também “fontes”, faz considerável diferença nessa transmissão. Helvética (2007), documentário dirigido por Gary Hustwit, coloca em discussão temas que percorrem tipografia e design – utilizando a fonte que leva o nome do filme como tema centralizador.
Leslie Savan, uma das duas únicas mulheres entrevistadas para o documentário, surge no filme com uma das informações mais marcantes: “Governantes e corporações amam Helvética porque as fazem parecer neutras e eficientes, e ao mesmo tempo humanas. (...) Esta é uma qualidade que todos querem transmitir, porque na realidade aparentam estar sempre brigando, que são autoritárias, burocráticas”. Ao meu modo de ver, essa perspectiva é o que torna a Helvética uma ideia brilhante e trágica. Concomitante ao fato de conseguir transmitir ordem, leveza e uma ampla interpretação (que permite seu uso para inúmeras funcionalidades), a fonte se difunde ao ideal comercial e ganha um gigantesco espaço publicitário, estampando a face de corporações globais consideravelmente problemáticas.
Algo a se evidenciar é a presença masculina europeia nas discussões presentes no filme. Seria interessante perceber, dentro das diversas camadas incorporadas por uma “fonte”, o quanto essas presenças influenciam na transmissão de informações. Assim como as análises de arquitetura fálica, seria possível reflexões que convergem para esse contexto? Além disso, em países latinos, como se entende a difusão de “tipos de letras”? Ela segue os mesmos caminhos das nações europeias? Em breve pensamento, a resposta é de negação.
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