prova hertzberger
Universidade Federal de Minas Gerais
Arquitetura e Urbanismo
PRJ076
Prova Hertzberger
Fabrizio de Alenkar Ferreira Filho
Sala de Estudos IGC
Desde a decisão grupal de definir a sala de estudos do IGC como nosso espaço analítico, diversos movimentos foram iniciados no intuito de estudar empiricamente como ela existe dentro do contexto da Casa da Glória. Nesse sentido, a história do local, seus espaços ocupados e desocupados, as reações que observamos dos visitantes curiosos, nossas sensações geradas ao primeiro contato, assim como aquelas desenvolvidas depois de horas ali acumuladas, foram extremamente necessárias para compreendermos como os elementos espaciais do local funcionam e, futuramente, desenvolver uma intervenção. Seguindo esse caminho, consideramos inevitável conjugar às nossas observações as reflexões e ponderações que Hertzberger realiza em seu livro Lições de Arquitetura, indicado como leitura obrigatória para as atividades realizadas naquilo que podemos reconhecer como “trabalho de campo”. Sucede-se assim, a partir desse texto, nossos perpasses analíticos até a intervenção final proposta.
Assim que se passa o passadiço, instantes antes de caminhar em direção a sala, é difícil imaginar o quão grande é o espaço que está por vir. Isso acaba gerando um combo de sensações dependendo do indivíduo que você se considera para entrar na sala: caso seja um aluno, principalmente do IGC, é quase inevitável caminhar até as mesas e instrumentos geológicos ali dispostos. Entretanto, caso seja um visitante em busca de elementos históricos, existe a retaguarda de, por alguns segundos, analisar se aquele pode ser um espaço de visita. Não que ele não possua elementos convidativos (como seus mapas detalhados, o confessionário e suas janelas que exibem ao fundo a Serra do Espinhaço e as camadas de Diamantina), porém acreditamos que a forma como esses elementos estão dispostos auxilia essa “preocupação primitiva” pertencentes a alguns indivíduos.
Dessa maneira, procuramos na intervenção realocar aqueles que poderiam ser realocados e construir outros no intuito de evidenciar o que consideramos convidativo. Assim, as mesas foram modificadas e dispostas em outros distâncias, foi-se criado estruturas relacionadas ao confessionário e ao IGC, além de pilares informacionais abaixo do mezanino. Algo também relacionado ao que coloco como “preocupação primitiva”, é o fato de que a sala está localizada na construção da Casa da Glória oposta à entrada principal. Essa construção possui qualidades espaciais que convergem para o conceito de “privado” e o distancia do “público”, uma vez que para abrir sua porta é necessário requisitar a chave para algum dos funcionários e recebe um trato diferenciado devido sua ligação ao Instituto de Geociências.
Observado essas questões, buscamos intervir a fim de criar gradações territoriais que aproximam a sala ao conceito de “público” de Hertzberger, embora também mantermos certos aspectos que se conectam ao “privado”. O mezanino, por exemplo, por estar localizado no alto e possuir um parapeito que impede a passagem de luz, possui adjetivos privativos e que foram extremamente interessantes para nossa intervenção, já que tornamos ali um espaço onde os indivíduos podem conversar, observar a vista, carregar o telefone, estudar e está mesmo dormir. O almofadado localizado nele não se prende a um número unitário de funcionalidade e a um alto grau de flexibilidade, mas possui um nível alto de polivalência — independente de termos imaginamos esse almofadado com a intenção primária de observar a vista, ele também pode dialogar com as outras funções citadas anteriormente.
Continuando no mezanino, após nossa intervenção, ele recebeu na irregularidade de seu chão (que tentamos explorar ao máximo e não minimizá-la) pequenas caixas de áudio que transmitem em baixa frequência um som. Esse som pode ser escutado do almofadado, o que transmite ao objeto mais uma funcionalidade (a de apreciar a escuta), mas sua mais alta qualidade é dada em um ponto específico do espaço: em frente a tela criada no parapeito. Essa tela ajuda a compreender como a sala de estudos funcionava no passado, enquanto capela das freiras. De cima, portanto, enxergando através dessa tela, se pode conectar e imaginar as diferentes urduras e tramas que a atual Sala de Estudos possuiu e possui.
Independente de como aquele espaço foi projetado, a aparência final está fadada às relações sociais que nela ocorrem — sendo isso nosso motor motriz para a construção da tela no mezanino. A Sala de Estudos do IGC pode possuir inúmeras funcionalidades e, nós, como intervencionistas de primeiro período, buscamos ao máximo não tentar desvendar todas elas. Coube a nós facilitar ao máximo o modo como os usuários se apropriam do espaço, distanciando claro do pensamento de monofunções.
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